O Cordel


O CORDEL: SUA HISTÓRIA, SEUS VALORES

 Editora Luzeiro, 2011


A TRAJETÓRIA DO CORDEL NO BRASIL, EM PROSA E VERSO.
Por Marco Haurélio

A literatura de cordel que imperou no Nordeste, desde os últimos anos do século XIX até o terceiro quartel do século XX, é, em linhas gerais, a poesia popular impressa e herdeira do romanceiro tradicional, da literatura oral (em especial dos contos populares, com predominância dos contos de encantamento). O cordel é um dos galhos da árvore da poesia popular, como o repente também o é. Mas, cordel e repente não são a mesma coisa, pois, à medida que a árvore cresce, os galhos vão se distanciando, embora estejam unidos pela origem comum. 
Grandes repentistas se aventuraram pelas sendas do cordelismo, a começar por Silvino Pirauá de Lima (1848-1913), um dos pioneiros da literatura popular, autor dos clássicos O Capitão do Navio e Zezinho e Mariquinha. Outros poetas que transitaram por ambas as sendas foram José Galdino da Silva Duda, José Vila Nova (pai do famoso Ivanildo Vila Nova), Natanael de Lima e Severino Borges Silva, entre outros grandes nomes já falecidos. Entre os vivos, vale citar José João dos Santos, o Mestre Azulão - paraibano radicado no Rio de Janeiro, um dos fundadores da feira de São Cristóvão - e Antônio Américo de Medeiros, potiguar estabelecido em Patos, Paraíba. Repentistas que se aventuram com sucesso pela literatura de cordel, apesar de raros nos dias atuais, existem. E gente do primeiro time: Geraldo Amâncio Pereira, apresentador do programa televisivo Ao Som da Viola, pela tv Diário; Sebastião Marinho, presidente da União dos Cordelistas, Repentistas e Apologistas do Nordeste - UCRAN, sediada em São Paulo; e Zé Maria de Fortaleza, para ficar em alguns poucos, mas significativos nomes.
Então, tiremos de uma vez por todas a dúvida: repentista não é cordelista, e cordelista não é repentista. Repentista pode ser cordelista, e vice-versa. Mas não é regra. Quando a literatura de cordel, ou de folhetos, estava engatinhando e tomando forma, no tempo do poeta maior Leandro Gomes de Barros (1865-1918), viviam, na região do Teixeira, Paraíba, afamados cantadores, como Inácio da Catingueira, Romano da Mãe d'Água e o próprio Pirauá. Havia uma presença mais marcante da oralidade, pois, nesse tempo, eram poucos os alfabetizados. Mas, nas raras horas de ócio, as pessoas se reuniam em torno de alguém que soubesse ler, e deleitavam-se com os romances fenomenais do Mestre Leandro: O Cachorro dos Mortos, Os Sofrimentos de Alzira, A Força do Amor, O Boi Misterioso. Outros poetas surgiram, alguns geniais.
A edição e a comercialização da literatura de cordel atingiram um alto grau de profissionalismo com João Martins de Athayde, poeta paraibano estabelecido no Recife, e com Francisco Lopes, pernambucano levado pela onda migratória a Belém do Pará, onde dirigiu a lendária Guajarina. Outros editores que aperfeiçoaram o comércio do cordel foram José Bernardo da Silva, sucessor de Athayde, em Juazeiro do Norte, João José da Silva, com a Luzeiro do Norte, em Recife, e Manoel Camilo dos Santos, que pontificou entre Guarabira e Campina Grande. Outros nomes dignos de nota são: José Alves Pontes (Guarabira), Joaquim Batista de Senna, paraibano que fez história no Ceará, e Manoel Caboclo, estabelecido com sua folhetaria Casa dos Horóscopos em Juazeiro. 
Em São Paulo, desde os anos de 1910, existia a Tipografia Souza, fundada pelo imigrante português José Pinto de Souza. Em 1950, dessa tipografia surgiu a Editora Prelúdio, dirigida pelos irmãos (adotivos) Arlindo Pinto de Souza, filho de José, e Armando Lopes. Dois anos depois, a editora publicaria seu primeiro cordel no formato que a consagrou, com capa em policromia e tamanho maior que o nordestino (13,5x18). Era um romance chamado O Amor que Venceu, de Antônio Soares de Maria. Um dramalhão muito ruim, diga-se. No mesmo período, o ex-garimpeiro e poeta popular Antônio Teodoro apresenta alguns originais à editora. Teodoro escrevia sobre tudo, para todos. Seu cordel Vida e Tragédia do Presidente Getúlio Vargas, de 1954, escrito após o suicídio de Getúlio, vendeu, na primeira edição, impressionantes 260 mil exemplares. Começava o período áureo da literatura de cordel fora do Nordeste. 
Entretanto, o tempo, os problemas econômicos, o êxodo rural e a escassez de bons poetas, após a geração que vai até a década de 1940 (Enéias Tavares dos Santos, João Firmino Cabral, Manoel Monteiro, João Lucas Evangelista, Mestre Azulão, Cícero Viera, entre outros), fizeram com que as trombetas fúnebres, na década de 1980, decretassem a morte do cordel.
A editora Luzeiro, sucessora da Prelúdio, foi a única a sobreviver às crises, e seguiu imprimindo os clássicos do gênero sob a orientação abalizada de Manoel D'Almeida Filho. Em 1990, Arlindo Pinto vendeu a editora à firma dos Irmãos Nicoló, e a Luzeiro passou por um período de dificuldades, no mesmo período em que morreu Manoel D'Almeida Filho, amargurado ante o futuro incerto da editora e da própria literatura de cordel. Hoje, Gregório Nicoló é o único proprietário, e a Luzeiro, superando os problemas, renova suas publicações, mantendo os títulos tradicionais, ainda com boa aceitação popular.


Gregório Nicoló (Proprietário da Editora Luzeiro) e Rouxinol do Rinaré


Nos anos de 1990, surgiu no Ceará uma nova geração de talentosos poetas populares, capitaneada por Klévisson Viana, que fundaria a editora Tupynanquim, em Fortaleza. Klévisson, juntamente com seu irmão Arievaldo Viana, Rouxinol do Rinaré (nome de guerra de Antônio Carlos da Silva), Evaristo Geraldo, José Mapurunga e outros valores daquele estado restituíram a Fortaleza a tradição que teve nos poetas editores Moisés Matias de Moura, Luís da Costa Pinheiro e Joaquim Batista de Sena, firmes baluartes há tempos atrás.
No Rio de Janeiro, Gonçalo Ferreira da Silva, cearense de Ipu, poeta com raízes eruditas e populares, concebeu e deu vida à Academia Brasileira de Literatura de Cordel, a ABLC, em 1988. Na ata de fundação, nomes históricos da literatura de cordel emprestaram seu prestígio à entidade. A Academia acabou se fundindo com a Casa de Cultura São Saruê, criada pelo General Umberto Peregrino, e incorporou ao seu acervo preciosidades hoje à disposição de estudiosos e entusiastas do cordel. Outras entidades espalhadas pelo Brasil continuam a luta encampada por Rodolfo Coelho Cavalcante (1918-1986), maior liderança da história do cordel, responsável pelo Primeiro Congresso de Trovadores e Repentistas, de 1955.
Os maiores sucessos são os eternos clássicos O Pavão Misterioso (José Camelo de Melo Rezende), A Chegada de Lampião no Inferno (José Pacheco), As Proezas de João Grilo (João Ferreira de Lima) e A Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum (Firmino Teixeira do Amaral). Lampião é a personagem histórica de maior projeção, e sua popularidade resiste à era digital. O maior romance ainda é O Direito de Nascer, de Manoel D'Almeida Filho, com 719 sextilhas. No formato livro, ressalve-se. 
É nesse formato que o cordel está chegando a um outro público, além do tradicional. Em São Paulo, neste 2008, a editora Nova Alexandria lançou, sob minha coordenação, a Coleção Clássicos em Cordel, com releituras de obras clássicas por cordelistas respaldados. Já foram impressos O Corcunda de Notre-Dame, de João Gomes de Sá, e Os Miseráveis, de Klévisson Viana, ambas adaptações de obras famosas do escritor francês Victor Hugo. Outros títulos estão a caminho.

Ilustrações
A ilustração não nasceu com o cordel. Antes, eram usadas as chamadas "capas cegas", sem qualquer ilustração. A xilogravura é um fenômeno relativamente recente, apesar de ter sido usada em 1907, na ilustração de uma capa de um folheto de Francisco das Chagas Batista enfocando Antônio Silvino. Fato isolado. Os desenhos e os clichês de cartões postais e com fotos de artistas de Hollywood eram os preferidos dos editores, a começar pelo lendário Athayde. A xilogravura nunca teve ampla aceitação no meio popular, mas a Academia a adotou como a ilustração por excelência dos folhetos de cordel. A bem da verdade, diga-se: a xilogravura é a ilustração mais característica, mas não a única. A essência de um bom cordel está no texto, não na capa, no vestuário. O cordel (texto e ilustração) evoluiu, e nenhum poeta ou editor antenado abre mão da tecnologia para oferecer ao público edições bem cuidadas. Sem esquecer a tradição, sem desprezar a modernidade. O cordel, por conta disso, chega vivo e com fôlego ao século XXI.
Eis um resumo da trajetória do cordel no Nordeste brasileiro e da sua expansão levada a efeito pelo migrante nordestino, o pau-de-arara. A mesma história pode ser contada em sextilhas de sete sílabas, que, por sinal, é a estrutura poética mais comum na poesia popular. Abaixo, um cordel que escrevi com o adjutório de João Gomes de Sá, que integra o Projeto Literatura de Cordel: Feiras e Oficinas, apoiado pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.


O CORDEL: SUA HISTÓRIA, SEUS VALORES

Marco Haurélio e João Gomes de Sá 

No Nordeste brasileiro,
Conservados na memória,
Romances, contos e xácaras
Lembravam a antiga glória
De Portugal e da Espanha,
De que nos fala a História.

Era esse o tempo das gestas
Dos cavaleiros andantes,
E essa poesia rude
Dos bardos itinerantes
Foi trazida para a América
No bojo dos navegantes.

Essa poesia foi
Cantada pelos jograis,
Celebrando os grandes feitos
Dos heróis medievais,
E também falando sobre
Romances sentimentais.

E quando começa o ciclo
Das Grandes Navegações
De Portugal e da Espanha,
As antigas tradições
Vão se acomodando aos poucos
Pelas novas possessões.

No Brasil, as tradições
Assim vão se fixando,
Com as levas de colonos
Nas caravelas chegando,
As regiões litorâneas
Vão pouco a pouco tomando.

O índio, dono da terra,
Pra não ser escravizado,
Vivendo no litoral
E se sentindo acossado,
Resiste, contudo vê
O seu esforço baldado.

Da África chegam os navios
Dos traficantes negreiros,
Que tornarão em escravos
Os que antes eram guerreiros
E que agora vão servir
À sanha dos fazendeiros.

As etnias e as crenças
São assim amalgamadas
E a cultura popular
Vai recebendo camadas,
Que em todos os segmentos
Até hoje são notadas.

Eis um resumo apressado,
Contudo bem consistente
Para mostrar que a arte
Não brota espontaneamente,
E com o nosso cordel
Também não é diferente.

No Brasil colonial
Um embrião já havia
Do cordel na conhecida
Tradicional poesia,
Ou mesmo na catequese
Que a Igreja promovia.

Excertos da tradição
Que no cordel se encerra
Estão na obra do vate
Gregório de Matos Guerra,
Que foi o maior dos sátiros
A habitar esta Terra.

Já no século XIX,
No Brasil imperial,
Resistia a escravidão
Um desnecessário mal.
Esse regime abjeto
Na pena teve um rival.

Foi o bardo Castro Alves,
Grande poeta baiano,
Que na arte que abraçou
No Brasil é soberano,
Lutando contra a injustiça,
No verso se fez arcano.

O grande Gonçalves Dias,
Dos termos do Maranhão,
Compôs na velha linguagem
Sextilhas de Frei Antão.
Portanto, também está
Na linha de evolução.

Porém é da pequenina
Paraíba o privilégio
De ver nascer o poeta
Que empunha o cetro régio
Da poesia do povo,
Templo majestoso, egrégio.

Leandro Gomes de Barros
É o nome do menestrel
Que deu forma e deu essência
Ao que chamamos cordel,
Que da tradição oral
Migrava para o papel.

Grande poeta satírico
E lírico maravilhoso,
Escreveu obras eternas
Como O Boi Misterioso,
E A Donzela Teodora,
De modo criterioso.

De sua lavra saíram
O Reino da Pedra Fina
Também O Príncipe e a Fada,
Que são Baman e Gercina 
E o clássico inigualável
Chamado Alonso e Marina.

Outro grande pioneiro
É Silvino Pirauá,
E entre ele e Leandro
Sempre se perguntará
Quem foi que editou primeiro,
E a dúvida persistirá.

Pirauá era de Patos
E Leandro de Pombal.
Ambos vão para o Recife
E lá se encontram afinal,
Onde Pirauá se mostra
Um cantador genial.

Pirauá introduziu
Na cantoria a sextilha,
Também inventou a deixa,
Que foi uma maravilha.
É por isso que seu nome
Entre os pioneiros brilha.

O Capitão do Navio
É a ele atribuído
E Zezinho e Mariquinha,
Outro folheto querido,
Da memória popular
Nunca mais foi esquecido.

Também entre os pioneiros
Deve ser mencionado
José Galdino, o Zé Duda,
Poeta bem inspirado,
Repentista e de bancada,
Nos dois gêneros, afamado.

E Pacífico Pacato
Cordeiro Manso também
Um poeta alagoano,
Que nunca usou de desdém,
Foi um poeta-repórter
Como os que hoje inda tem.

João Melquíades Ferreira
Dedicou-se à cantoria
E no cordel escreveu
O Valente Zé Garcia.
Severino Milanês
Versava com maestria.

E João Martins de Athayde
No cordel foi professor.
Quando Leandro morreu,
Ele tornou-se editor,
Comprando a obra do mestre
Por irrisório valor.

E por quase trinta anos
Escreveu e editou.
Delarme, um jovem tipógrafo,
Que Athayde contratou,
Aprendeu tanto a lição
Que ao próprio mestre ensinou.

Em Recife, onde Leandro
Antes se havia instalado,
Athayde radicou-se
Como editor afamado,
Até por Mário de Andrade
Foi bastante elogiado.

Porém, antes de Athayde,
Na Parahyba do Norte,
Francisco Chagas Batista
Ao cordel dava suporte,
Transformando Guarabira
Num centro difusor forte.

Compôs com Leandro a gesta
Do grande Antônio Silvino,
Que antes de Lampião -
Batizado Virgulino -
Tonou-se o mais afamado
Cangaceiro nordestino.

Chagas Batista, porém,
Sobressaiu-se aos seus pares
Quando escreveu Cantadores
E Poetas Populares,
Que como estudo se mostra
Grande entre seus similares.

José Camelo de Melo
Foi poeta imaginoso.
É o autor do Romance
Do Pavão Misterioso,
O Bom Pai e o Mau Filho,
Outro clássico valoroso...

A Verdadeira História
De Joãozinho e Mariquinha,
Coco Verde e Melancia,
Também Pedrinho e Julinha.
Poeta igual Zé Camelo
Naquele tempo não tinha.

Joaquim Batista de Sena
No verso foi magistral,
Era um editor regido
Pelo espírito fraternal.
A Filha Noiva do Pai
É um título genial.

Neste momento voltamos
A falar de Athayde,
Que no final dos 40, 
Já alquebrado, decide
Vender a José Bernardo
Os frutos de sua lide.

José Bernardo da Silva,
Um grande empreendedor,
Que em Juazeiro do Norte
Tornar-se-ia editor,
Pois era de Padre Cícero,
Um sincero seguidor.

Zé Bernardo, alagoano
Radicado em Juazeiro
Com sua tipografia 
Naquele grande celeiro
Tornou-se uma referência
Para o cordel brasileiro.

Mesmo no Norte, o cordel
Teve um momento brilhante
Com a célebre Guajarina
Fundada por um migrante
Nordestino no Pará,
Num tempo que vai distante.

Francisco Lopes, nascido
No solo pernambucano,
Em Belém, na Guajarina,
Já no décimo quarto ano
Do século que se findou,
Foi quem reinou soberano.

No Norte editou folhetos
Do poeta genial
Piauiense, Firmino
Teixeira do Amaral,
Que nas pelejas forjadas
Jamais encontrou rival.

Pois colocou frente a frente
Num incrível baticum
O Cego Aderaldo com
Zé Pretinho do Tucum,
Mas sendo este fictício,
Foi um duelo incomum.

Luís da Costa Pinheiro
É outro bardo editado
Em Belém por Chico Lopes,
E até hoje é procurado
Seu romance O Papagaio
Misterioso falado.

Manoel Camilo dos Santos
Também se destacaria
Em Guarabira e Campina,
Na Estrella da Poesia;
O país São Saruê 
Descreveu com galhardia.

Em Recife inda surgiu
Outra editora de porte
Porque João José da Silva
Dirigiu e deu suporte
À tipografia que
Chamou Luzeiro do Norte.

Poetas dos mais famosos
Nela foram publicados.
José Camelo de Melo,
Dos mais reverenciados,
Na Casa de João José
Teve livros editados.

Severino Borges Silva
Compôs obras geniais.
O Verdadeiro Romance
Do Herói João de Calais
Deixou seu nome gravado
No Livro dos Imortais.

Inda é autor d’A Princesa
Do reino do Mar Sem Fim.
Caetano Cosme da Silva,
Guiado por Eloim,
Fez O Assassino da Honra
Ou A Louca do Jardim.

Manoel Pereira Sobrinho
Teve grande projeção,
Pois Dimas e Madalena,
Rosinha e Sebastião
E Helena, a Virgem dos Sonhos,
Entre os clássicos estão.

Vamos citar Zé Faustino,
Apolinário Pereira
Severino Milanês
E Cirilo de Oliveira,
Manoel Cândido da Silva,
Trovadores de primeira.

Mas o cordel vicejou
Muito além da Paraíba,
Pois em Sergipe há nomes
Que nem o tempo derriba 
Como Sátyro Xavier
E o Trovador Cotinguiba.

Do imortal Zé Pacheco
Consta no nosso caderno
A Princesa Rosamunda.
E outro clássico eterno
É o folheto A Chegada
De Lampião no Inferno.

Francisco Sales Arêda
Jamais fez um verso à toa 
Versou sobre Malazarte
E fez com prosódia boa
O Romance de João Besta
E a Jia da Lagoa.

Já João Ferreira de Lima
Fez história no sertão.
As Proezas de João Grilo,
Sua maior criação,
Se situa ao lado de
José de Souza Leão.

Na Paraíba nascido,
Em Sergipe radicado,
Manoel D'Almeida Filho
Sempre é reverenciado,
Como um dos grandes valores
Que editaram no passado.   
 
À Editora Luzeiro
Servia de consultor,
Vendeu milhões de exemplares,
Como grande trovador,
E é referência pra muitos
Que admiram seu valor.

A Luzeiro a quem Almeida
Dedicou o seu talento,
Surgiu em 73,
Mas foi um desdobramento
Da Editora Prelúdio,
Nascida noutro momento.

A Tipografia Souza
Por um português fundada 
Em Editora Prelúdio
Nos 50 é transformada.
Arlindo Pinto de Souza
Lidera a nova empreitada.

Com Antônio Teodoro
Dos Santos cresce o cordel
Na capital bandeirante,
Cumprindo um outro papel,
Diferente no formato,
Mas à essência fiel.

Teodoro era baiano,
Assim como Minelvino,
Que vê sua obra no centro
Editorial sulino
Alçar voo considerável,
Além do chão nordestino.

De Alagoas pra Bahia
Vem Rodolfo Cavalcante.
Era poeta de méritos,
Porém nunca foi brilhante,
Mas como líder da classe
Foi ele o mais importante.

Organizando congressos,
Criando agremiações,
Rodolfo batalhou sempre
Por melhores condições
Pra os poetas que inda hoje
Aplaudem suas ações.

Citemos Antônio Eugênio,
Por dever e por estima,
O grande Apolônio Alves
E Natanael de Lima,
Que ao lado dos outros mestres
Estão no andar de cima.

Cuíca de Santo Amaro
Foi um mau versejador,
Sempre de fraque e cartola,
Nas ruas de Salvador,
Fez do sensacionalismo
O seu mote propulsor.

Grande poeta e xilógrafo
É mestre Enéias Tavares,
Também Cícero Vieira,
Entre os vates populares,
Escreveu obras de peso,
Que inda vendem aos milhares.

Dos xilógrafos que escrevem,
Dila se inclui entre os tais,
J. Borges em Bezerros
É conhecido demais.
Antônio Lucena dorme
O sono dos imortais.

Já João Firmino Cabral,
Poeta conceituado,
Por Gregório Nicoló
Na Luzeiro é editado.
E de Manoel D'Almeida
É seguidor declarado.

Desta geração lendária
Brilha Manoel Monteiro.
Mestre Azulão é arauto
Lá no Rio de Janeiro,
Costa Leite é xilógrafo
Famoso no mundo inteiro.

Em São Paulo Jota Barros
Foi peça muito importante;
Em Patos, Antônio Américo
É verdadeiro gigante.
Na Bahia, Antônio Alves
É estrela fulgurante.

Também Gonçalo Ferreira,
Unindo a experiência
Ao saber adquirido
E à inata inteligência,
Divulga nos seus folhetos
Informação e ciência.

Preside a Academia
Brasileira de Cordel -
Por sigla ABLC -
Recanto do menestrel,
Onde todos são bem vindos,
Do mascate ao bacharel.

Filho de Francisco Chagas,
Pioneiro cordelista,
Em Anápolis reside
O Paulo Nunes Batista,
Autor de Zé Bico Doce
E brilhante ABCdista.

O cordel está presente
No centro-sul do país
Na arte de Cícero Pedro
E do maranhense Assis,
Costa Senna e Cacá Lopes,
Fazendo o povo feliz.

Moreira de Acopiara
É cordelista aclamado;
E Sebastião Marinho,
Paraibano arretado,
Valdeck de Garanhuns,
Mamulengueiro afamado.

Da novíssima geração
Sobressaem no momento
O jovem Jenerson Alves
E Varneci Nascimento.
Fazem crítica social,
Com muito discernimento.

No Rio, Marcus Lucena
É músico e cordelista;
Bráulio Tavares, poeta,
Escritor e ensaísta;
Chico Salles faz cordel
E é um grande sambista.

Marcelo Soares deve
Ser citado com louvor,
Porque no verso faz arte
E na xilo é professor.
Filho de José Soares,
Respeitado trovador.

Fazendo história na terra
Do velho cego Aderaldo,
Surgiu a Tupynanquim
Com elenco de respaldo:
Rouxinol do Rinaré,
Klévisson e Arievaldo.










Arievaldo Viana, Evaristo Geraldo, Klévisson Viana e Rouxinol do Rinaré



O Evaristo Geraldo
É irmão de Rinaré.
No Ceará também brilham
Gonzaga de Canindé,
E Pedro Paulo Paulino,
Em quem pomos muita fé.

Zé Maria em Fortaleza,
Cordelista e cantador,
Geraldo Amâncio Pereira
Dispensa apresentador,
O poeta Vidal Santos
É outro batalhador.

O Rio Grande do Norte
Volta a seus dias de glória,
Pois lá Antônio Francisco
Há anos já faz história
E Luiz Campos também
Traça bela trajetória.

Mas as mulheres também
No cordel marcam presença:
Maria Ilza Bezerra
Escreve debate e pensa
Como Clotilde Tavares,
Que tem verve e tem sabença.

Duas outras editoras
Fazem bonito papel:
Queima-Bucha em Mossoró
Dignifica o cordel;
E a Coqueiro no Recife
À nossa arte é fiel.

Já o autor deste folheto
É natural da Bahia.
O seu nome é Marco Haurélio,
Um servo da poesia,
Que em palestras e oficinas
Aos mestres reverencia.

(Texto publicado na revista CULTURA CRÍTICA n° 6, da Apropuc-SP, 2º semestre de 2007)


Marco Haurélio - Poeta popular, folclorista, autor de vários folhetos de cordel, com destaque para Presepadas de Chicó e Astúcias de João Grilo. É coordenador da Coleção Clássicos em Cordel da editora Nova Alexandria, e autor de Contos folclóricos brasileiros, Contos e fábulas do Brasil e Breve história da Literatura de Cordel..

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